Álbum Lições do Cotidiano – Faixa 10

 

Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=jtZPXpNhfGk

 

Eu, Você e a Espera

 

(Um chamado)

Seu Menino, puxe com gosto este xote cheiro de paixão

Que fará todo mundo sentir um aperto no coração.

 

(Refrão)

Chora sanfona...

Lamenta o que espera e não veio...

Chama de volta, tudo o que vivemos

Que aqui aguardo o tempo inteiro.

 

Toque bem mansinho a sanfona sentida,

Que eu danço sozinho a canção da partida.

O chão de barro conhece o passo e compasso

De quem busca abraço e só encontra descaso.

 

O cheiro dela ficou no relento do meu lenço,

Mesmo assim ainda mora no tempo suspenso.

E a cada batida do triângulo e do pandeiro,

Ao som da sanfona meu coração chora primeiro.

 

(Refrão)

Chora sanfona...

Lamenta o que espera e não veio...

Chama de volta, tudo o que vivemos

Que aqui aguardo o tempo inteiro

 

Vagueia, minha ilusão, sanfoneiro,

Que a noite seja de infinita paixão.

Puxe a sanfona que ela chega perto de mim,

O amor nunca se perdeu nesta estrada sem fim.

 

Canta comigo essa dor que fala,

Que arde safada, aperta e não cala.

Cante este xote moído, tão cheio de ardor,

Que dança entre as lágrimas e cheira a amor.

 

(Refrão)

Chora sanfona...

Lamenta o que espera e não veio...

Chama de volta, tudo o que vivemos

Que aqui aguardo o tempo inteiro

 

Hiran & Majda

 

Composição – Hiran de Melo & Majda Hamad Pereira

Arranjos e Gravação: Studio Washington Boy

Álbum Lições do Cotidiano – 2024/2025

Faixa 10 - Intérprete – Andreza Bocarely

https://www.youtube.com/watch?v=jtZPXpNhfGk

Faixa 11 – Instrumental – Maestro Boy

 

Uma Jornada Poética pela Espera e a Memória

 

Por Hiran de Melo

 

Há canções que não apenas se ouvem — se habitam.


“Eu, Você e a Espera” é dessas: não começa com a melodia, mas com um arrepio. Seu compasso pulsa na carne viva do tempo, e suas palavras dançam entre o sentir e o pensar, onde a saudade veste forma e o amor resiste ao esquecimento.

 

A filosofia nos oferece lanternas para atravessar esse caminho: um olhar sobre o que significa agir no mundo e um outro sobre como a linguagem poética pode desvelar aquilo que não conseguimos dizer com palavras simples. Hannah Arendt e Franklin Leopoldo e Silva iluminam, cada qual à sua maneira, essa travessia onde a canção se torna gesto, e o gesto, resistência.

 

1. O Convite à Ação e ao Sentir

 

"Seu Menino, puxe com gosto este xote cheiro de paixão Que fará todo mundo sentir um aperto no coração."

 

É aqui que tudo começa — não com um gesto mecânico, mas com um chamado. Não é apenas puxar o fole, é abrir o peito.

 

Essa abertura não é técnica, mas visceral: a dança que se propõe é uma coreografia da alma, em que o sentir se espalha como perfume e aperto. É uma ação que brota do íntimo e se espalha em comunidade.

 

E quem escuta, sente. Quem sente, já está dançando.

 

2. O Lamento que Canta o Que Não Veio

 

Chora sanfona...

Lamenta o que espera e não veio...

Chama de volta, tudo o que vivemos

Que aqui aguardo o tempo inteiro.

 

O lamento não é apenas tristeza. É uma espera que se transforma em som. Aqui, a memória não é lembrança passiva — é clamor. Há um passado que insiste em voltar, mas não volta.

 

A esperança parece estar ferida, paralisada, mas não morta. E, mesmo assim, a canção persiste. Mesmo com o tempo parado, o canto se move.

 

A dor se canta para que não se cale.

 

3. A Dança Solitária e o Chão que Guarda

 

Toque bem mansinho a sanfona sentida,

Que eu danço sozinho a canção da partida.

O chão de barro conhece o passo e compasso

De quem busca abraço e só encontra descaso.

 

Há solidões que não cabem no silêncio. Dançar sozinho é, paradoxalmente, não desistir do outro. O barro sob os pés lembra de quem ali passou.

 

Mesmo o abandono, quando reconhecido, ganha dignidade. E há uma grandeza em continuar dançando, mesmo sem companhia.

 

A memória do chão é testemunha: há gestos que não se apagam.

 

4. O Cheiro que Resiste ao Tempo Suspenso

 

O cheiro dela ficou no relento do meu lenço,

Mesmo assim ainda mora no tempo suspenso.

E a cada batida do triângulo e do pandeiro,

Ao som da sanfona meu coração chora primeiro.

 

O perfume, invisível, diz mais que a presença. É vestígio de quem já foi e, ao mesmo tempo, presença insistente. O tempo aqui não anda nem para frente nem para trás — paira.

 

E dentro desse tempo suspenso, a sanfona anuncia que o coração ainda se lembra.

 

A memória cheira, vibra, resiste. É o invisível que nos prende ao vivido.

 

5. O Refrão: A Persistência do Esperar

 

Chora sanfona...

Lamenta o que espera e não veio...

Chama de volta, tudo o que vivemos

Que aqui aguardo o tempo inteiro.

 

Quando o refrão retorna, ele não repete: ele aprofunda. Esperar aqui não é passividade — é insistência. É um modo de habitar o tempo, recusando o esquecimento.

 

Não se espera por: espera-se porque ainda se ama. Porque ainda se crê que o passado não é apenas passado, mas força viva.

 

Esperar é manter acesa a possibilidade do reencontro.

 

6. A Imaginação que Resgata o Amor

 

Vagueia, minha ilusão, sanfoneiro,

Que a noite seja de infinita paixão.

Puxe a sanfona que ela chega perto de mim,

O amor nunca se perdeu nesta estrada sem fim.

 

A imaginação é a travessia mais fiel da saudade. É o sanfoneiro que, ao puxar o fole, chama de volta aquilo que parecia perdido.

 

A estrada pode ser longa, mas não é vazia. O amor talvez se esconda nas curvas, mas nunca se perde de verdade.

 

E é nesse movimento que o novo pode surgir — Não o mesmo amor, mas o amor refeito, recriado.

 

7. A Dor que Canta e Cheira a Amor

 

Canta comigo essa dor que fala,

Que arde safada, aperta e não cala.

Cante este xote moído, tão cheio de ardor,

Que dança entre as lágrimas e cheira a amor.

 

Há dores que se calam — outras cantam. E quando cantam, se tornam partilháveis. A música permite que a dor se transforme em beleza.

 

E que o amor não se confunda com ilusão, mas com coragem. Coragem de dizer: estou aqui, inteiro, mesmo que ferido.

 

Cantar é mostrar ao mundo que se viveu, e ainda se vive.

 

A Música como Ato de Existir

 

“Eu, Você e a Espera” é mais do que uma composição: é uma existência cantada. É o gesto de quem resiste ao apagamento pela arte, pela memória e pelo afeto. Como nos ensinou aquela que pensou o agir como revelação, e aquele que viu na linguagem poética uma forma de morada, essa canção não apenas fala do tempo — ela o habita. E ao habitá-lo, nos oferece um abrigo.

 

Que sua jornada na Loja de Perfeição ‘Paz e Amor’, meu jovem Irmão Neófito, seja também esse abrigo: um lugar onde a beleza, a dor, a ação e a memória possam coexistir. Que você cante o que sente — e sinta o que canta.

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