Álbum Veraneio Intermares 2020 – Faixa 04

Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=xkLO6HzFqyc

 

Cassino da Feira

 

Dançando como uma princesa árabe

Vestido longo que encobre e mostra muito mais

Piteira entre os dedos, perfumes angelicais

Musa e música de Paris.

 

(Coral)

Bela meretriz  

De tudo sabes.

 

Dentre as mais belas é a que cabe

Nos sonhos dos senhores do algodão

Da Rainha da Borborema, o maior tema

Do cassino da feira a atriz.

 

(Coral)

Bela meretriz  

De tudo sabes.

 

Rua Boa, antes que tudo acabe

Na feira de galinhas e ervas milagrosas

Gaiolas e bancas de curandeiros

Resta a fachada da matriz.

 

(Coral)

Bela meretriz  

De nada sabes.

 

Composição -  Hiran Melo & Boy

Intérprete: 🎤 Boy

Arranjos e Gravação: Studio Washington Boy

Faixa 04 do Álbum Veraneio Intermares 2020

Publicado no blog: Álbuns – Letras de Músicas

Vídeo:

https://www.youtube.com/watch?v=xkLO6HzFqyc

 

Anexo

 

Depoimento do poeta: Cassino da Feira

 

"Cassino da Feira" nasceu de uma reflexão sobre os contrastes da vida, da cultura e da sociedade, misturando elementos da fantasia e da realidade de uma maneira quase cinematográfica. A ideia foi criar uma imagem poderosa e sedutora, com um toque de mistério, que fizesse o ouvinte questionar sobre o que é visível e o que permanece escondido sob a superfície.

 

Na primeira estrofe, a figura feminina aparece como uma 'princesa árabe', com um 'vestido longo que encobre e mostra muito mais'. A sensualidade está ali, mas há também uma camada de dissimulação, um jogo entre o revelado e o oculto. A 'piteira entre os dedos' e os 'perfumes angelicais' compõem um cenário de sofisticação e desejo, remetendo à figura da mulher como musa, como arte, como algo inalcançável e ao mesmo tempo cativante. A música de Paris simboliza a elegância e o glamour, mas também a perda de identidade no contexto do espetáculo e da fantasia.

 

O coral, que chama a personagem de 'bela meretriz', traz à tona a dualidade dessa figura. Ela é admirada, mas também é vista sob um olhar de julgamento, como alguém que 'sabe de tudo', mas ao mesmo tempo carrega consigo a etiqueta da prostituição, da sedução e da subversão das normas sociais. A 'bela meretriz' é a mulher que pertence aos sonhos dos 'senhores do algodão', uma referência que faz alusão a um contexto histórico e social onde figuras como essa eram vistas como objetos de desejo e ao mesmo tempo marginalizadas pela sociedade.

 

A menção à 'Rainha da Borborema' e ao 'cassino da feira' constrói a ideia de uma cultura local rica e contraditória, onde as festas e os espetáculos se misturam com a religiosidade, a superstição e a mercantilização da vida. A feira de galinhas e ervas milagrosas, com suas 'gaiolas e bancas de curandeiros', é um ambiente de promessas, onde a fachada de uma matriz ainda é o último resquício de algo sagrado, enquanto o resto é consumido pelo comércio, pelo prazer e pela ilusão.

 

O poema passa por esses contrastes e também nos faz refletir sobre as coisas que damos valor, que idealizamos e que muitas vezes tentamos esconder. A 'bela meretriz' também é uma metáfora para o que a sociedade não quer ver, mas ao mesmo tempo não pode deixar de admirar. Ela sabe de tudo, mas ao mesmo tempo, talvez, nada saiba de verdade, como uma figura que carrega a sabedoria da experiência e o fardo do olhar de julgamento dos outros.

 

Em certo ponto, a letra provoca uma espécie de desilusão, especialmente na última repetição do coral: 'De nada sabes'. É como se, ao final de todo o glamour e do espetáculo, a realidade fosse outra, menos romântica, menos encantada, talvez mais dura. A meretriz, embora belíssima e desejada, vive também a ilusão da própria existência, assim como qualquer um que se perde na fantasia da vida.

 

Essa canção é uma reflexão sobre as máscaras sociais, sobre como idealizamos certos personagens e cenários, mas também como a realidade sempre está ali, por trás da fachada, esperando para ser revelada. O 'Cassino da Feira' é um lugar onde a vida, com todas as suas contradições, se apresenta de forma crua e fascinante ao mesmo tempo.

 

Poeta Hiran de Melo

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