Álbum Veraneio Intermares 2020 – Faixa 12

Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=8IgTf3aDnps

 

Atire!

 

Agora que apontas tua arma

Infeliz ser, não tens como correr

Nada mais te resta: atire!

 

Tenho o que queres

Mas não te darei

Nada mais te resta: atire!

 

Eu já te esperava

Nada temos a negociar

Nada mais te resta: atire!

 

Tu nada sabes, triste ser

Nada me faz querer viver

Nada mais te resta: atire!

 

Não perca a coragem

Eu também quero morrer

Nada mais te resta: atire!

 

Nada sabes do além mundo

Não tenho medo, só tenho amor

Nada mais te resta: atire!

 

Criança! Não chores a tua morte

Não tenhas medo, morrerei contigo

Nada mais te resta: atire!

 

Composição -  Hiran Melo & Boy

Interprete: 🎤 Boy

Arranjos e Gravação: Studio Washington Boy

Faixa 12 do Álbum Veraneio Intermares 2020

Publicado no blog: Álbuns – Letras de Músicas

https://poetahiran.blogspot.com/2022/03/album-veraneio-intermares-2020-atire-i.html

Vídeo:

https://www.youtube.com/watch?v=8IgTf3aDnps

 

Anexo

 

Depoimento do poeta: Atire!

 

"Atire!" é um poema que nasceu de um lugar sombrio, um mergulho nas profundezas da desesperança e da aceitação da morte. A letra é um diálogo tenso e carregado entre duas figuras: o atirador, consumido pela fúria e pelo desespero, e o alvo, que o desafia com uma serenidade perturbadora, que transcende o medo da morte e oferece, paradoxalmente, compaixão.

 

A repetição do verso ‘Nada mais te resta: atire!’ funciona como um mantra, um convite macabro que ecoa ao longo do poema. No início, a voz do alvo ecoa como um desafio, que se confunde com a própria inevitabilidade da fatalidade. Ele parece ter o que o atirador deseja, mas se recusa a entregar, alimentando a sua raiva. Essa repetição intensifica a tensão crescente ao longo da obra. A aparente ausência de medo e a recusa em se submeter ao atirador transformam o poema em um estudo psicológico sobre aceitação e libertação.

 

À medida que o poema avança, a figura do alvo se revela mais complexa. Ele não é apenas um alvo passivo, mas um ser que parece ter transcendido o medo da morte. Esse ser, de certa forma, se torna um reflexo da fragilidade humana, aceitando o fim sem resignação, mas com uma serenidade perturbadora. O uso do termo "criança" cria um contraste poderoso: o alvo vê o atirador não apenas como um agressor, mas também como alguém vulnerável, que compartilha da mesma dor existencial.

 

O alvo ao dirige-se ao atirador como "criança", expressando compaixão e até mesmo amor. Ele revela que também deseja a morte, que compartilha do mesmo desejo de libertação.

 

O movimento do poema caminha de uma provocação inicial para uma conexão emocional genuína, numa tentativa de resgatar a humanidade perdida. O alvo, com sua aceitação da morte e seu convite a morrer junto com o atirador, oferece uma compaixão inesperada, revelando a profundidade da empatia, mesmo nas situações mais extremas. Ele o chama de "criança", revelando a fragilidade por trás da fúria.

 

"Atire!" não é um poema sobre violência gratuita, mas sobre a complexidade da dor e da desesperança. É uma reflexão sobre a fragilidade da vida e a busca por sentido em um mundo que, muitas vezes, parece cruel e indiferente. A figura do alvo, com sua serenidade enigmática, nos convida a questionar nossas próprias crenças sobre a vida e a morte, sobre o amor e a compaixão.

 

A obra é, assim, uma meditação sobre o fim, não como um ponto de desespero, mas como uma possível libertação. Uma reflexão sobre como as relações humanas, mesmo nas situações mais extremas, podem revelar a vulnerabilidade do agressor que se esconde por trás da fúria e do ódio. E a perplexidade que causa a ausência do medo, diante da presença do amor.

 

Poeta Hiran de Melo

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